Ficly

Dalmiro

Dalmiro morava em São Paulo, mas sempre sonhou em ver o mar. Por isso tentava encontrá-lo nas músicas latinas, nos sons do folk americano e na prancha de surf que ele pendurava no retrovisor de seu taxi.
Ele nunca sonhou em ser taxista, nunca tinha pensado em sair por aí com um carro dando “carona” paga pros paulistas. Um pior que o outro. Cada viagem uma conversa diferente, uma corida diferente, e todo dia um mormaço de trabalho que o apagava na noite seguinte.
Sonho mesmo, era ver o mar. Correr na areia descalço longe dos prédios e perto da solidão saudável. Dalmiro amava o silêncio, algo que ele mesmo não conhecia, pois falar era com ele mesmo.
O taxista comandava a conversa, dizia todos os podres dos políticos e sabia tudo o que estava rolando por aí, mas na pausa de um cliente pra outro, ele entrava em transe, olhava para a prancha pendurada e voava para bem longe.
E foi num desses transes psicóticos que Dalmiro acordou com o toque de um cliente na janela do carro: um homem com um suéter branco.

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